Inflação negativa do IPCA em agosto foi excepcional

Por Roberto Macedo*

Conforme o IBGE anunciou, a inflação medida pelo IPCA em agosto foi negativa, com queda de 0,02%, depois de crescer 0,38% em julho. Antes, a última taxa negativa foi a de junho de 2023, de -0,08%. Ou seja, há mais de um ano atrás, o que por si só indica a excepcionalidade de uma taxa negativa.

A taxa em 12 meses, até agosto, ficou em 4,24%, depois de ter alcançado 4,5% no mês anterior. Recorde-se que o Banco Central trabalha com a meta de 3% ao ano, com tolerância de 1,5% para baixo ou para cima. Assim, a taxa atual ainda está muito próxima do limite superior e tudo indica que o Banco Central deve aumentá-la. Mas, quanto? O mercado prevê quatro altas de 0,25 ponto percentual para a taxa básica de juros, a Selic.

Ora, como o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que decide a Selic, reúne-se a cada 45 dias, entendo que quatro reuniões é um período muito longo para fazer uma previsão com esse alcance. Tudo vai depender da evolução do IPCA, que é avaliado a cada mês.

A taxa negativa de agosto foi particularmente causada pelo preço da energia elétrica (-2,77%) e do item alimentação e bebidas (-0,44%). Em sua edição de 11/9/2014, o Estado de S.Paulo aponta que os “… economistas chamam a atenção para o fato de que, agora em setembro, esses dois grupos de preços devem registrar outro comportamento como reflexo da falta de chuvas e das queimadas que se espalharam pelo País…”, o que já levou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a anunciar” um aumento das tarifas em setembro. E mais: “No caso dos alimentos, o temor é de queda da produção e encarecimento de preços.”

Ou seja, há razões para se acreditar numa variação positiva do IPCA neste mês, ainda não se sabe a que taxa. A próxima reunião do Copom será nos dias 17 e 18 de setembro, estando assim muito próxima. Na minha opinião, ele fará um aumento de 0,25 ponto percentual da Selic e continuará a acompanhar a inflação para tomar novas decisões a respeito da Selic, pois, como disse, a previsão de quatro aumentos da Selic pelo mercado é muito longa para indicar um rumo neste momento.

* Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.

Artigo publicado no site da Fundação Espaço Democrático em 13 de setembro de 2024.