Por Roberto Macedo*
Segundo o noticiário sobre o assunto, por um bom tempo, no passado de médio prazo, as políticas monetárias de Brasil e Estados Unidos – aplicadas pelos bancos centrais dos dois países, seguiram o mesmo rumo, pois a economia e a inflação cresciam em ambos e houve a opção por políticas monetárias restritivas, com aumento da taxa básica de juros aqui e lá.
Mais recentemente, cerca de um mês para cá, passaram a surgir notícias de que nos EUA o ritmo de atividade da economia está caindo – fala-se até de uma possível recessão –, e a inflação também, com o que já se prevê que brevemente, ainda neste segundo semestre, o Fed iniciará um ciclo de redução da sua taxa básica.
Quanto à taxa básica brasileira, a Selic, a economia vem dando sinais de crescimento – até a indústria, sempre caindo, deu sinais disso – e a inflação vem aumentando. Segundo a última edição (2/8) do Boletim Focus, do BC, que semanalmente avalia as previsões dos analistas de mercado, a previsão para a taxa do IPCA (o índice que mede a inflação para o BC) deste ano passou de 4,02% para 4,12% nas últimas quatro semanas, e a de 2025 de 3,88% para 3,98%. Quanto ao PIB, a taxa anual prevista para este ano passou de 2,10% para 2,20%, também no mesmo período. Com isso, não há margem para o BC reduzir a taxa básica de juros, hoje muito alta (10,5% ao ano), no horizonte que se pode contemplar.
E a taxa de câmbio, como fica? O conhecido economistaMário Henrique Simonsen, já falecido, dizia que prever a taxa de câmbio, dada a sua alta volatilidade, é o Waterloo dos economistas, mas vou me arriscar. Com a menor taxa nos EUA, o fluxo de recursos para aquele país deve perder velocidade, ao mesmo tempo que deve aumentar o fluxo para o Brasil, onde a Selic ainda é muito alta. E o próprio Comitê de Política Monetária (Copom), no comunicado sobre sua última reunião, indicou que não deve haver novas reduções no curto prazo. Já se sabe também que o fluxo de recursos externos para a nossa bolsa de valores voltou a ser positivo em julho, depois de um primeiro semestre em queda. Aliás, o mesmo Boletim Focus prevê que ela estará em R$ 5,30 no fim deste ano. Nessas condições, as perspectivas para a nossa taxa de câmbio se valorizar são favoráveis, mas vale lembrar que sua volatilidade é muito grande, no que se destaca entre outras variáveis macroeconômicas.
* Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.
Artigo publicado no site do Espaço Democrático em 6 de agosto de 2024.