Por Roberto Macedo*
Uma boa notícia da economia americana repercutiu bem no mercado financeiro brasileiro: a inflação para o consumidor, em 12 meses, caiu de 3,7% para 3,2% entre os meses de setembro e outubro, mais que o esperado. Aqui, a taxa do IPCA em 12 meses também já havia arrefecido, passando de 5,19% em setembro de 2023 para 4,82% em outubro.
Com essa notícia dos EUA, o mercado financeiro reagiu bem também aqui. O Ibovespa subiu 2,28% no mesmo dia e chegou a 123.166 pontos, seu maior valor desde 3 de agosto de 2021. O dólar caiu 0,93% e fechou em R$ 4,86, o menor valor desde 18 de setembro.
Os juros dos títulos do tesouro americano também reagiram com a notícia de menor inflação. A taxa dos títulos de dois anos veio de 5,02% ao ano no dia anterior para 4,80% naquele 14 de novembro. A taxa do título de dez anos se reduziu de 4,63% para 4,44% ao ano no mesmo período. No Brasil, as taxas de juros dos títulos do nosso Tesouro também caíram. Segundo o noticiário, a taxa de janeiro de 2025 caiu para 10,55%, ante 10,72% do ajuste anterior; a taxa de janeiro de 2026 foi de 10,49% para 10,28%, sempre ao ano.
Os mercados financeiros internacionais são interligados e isso tem sido destacado pelo presidente do nosso Banco Central. A interligação funciona assim: se a inflação nos EUA continuasse alta e combatida por aumentos da taxa básica americana, o Brasil não poderia reduzir muito a sua em face do risco de que investidores locais realocassem recursos para os EUA, o que aumentaria a demanda de dólares e a taxa de câmbio.
Mas é cedo para celebrar resultados de um dia diante de problemas tão complexos. A meta de inflação do Fed, o banco central dos EUA, é de 2% ao ano e ainda falta muito para chegar lá. E, como no Brasil, lá o governo federal também enfrenta um sério problema fiscal que como aqui interfere na política monetária. Desde o seu início o governo Joe Biden vem adotando uma política de forte expansão fiscal. Mas vale lembrar que ele opera com o dólar, moeda que atrai uma confiança enorme dos investidores. Aqui a meta é de 3,25%, com um teto de tolerância de 4,75%.
Como se percebe dos dados acima, aqui a inflação é maior, o teto da meta idem, o mesmo acontecendo com os juros da dívida. É porque nossas condições, que determinam esses resultados, são piores.
De qualquer forma, uma notícia boa é sempre melhor que uma notícia ruim, a menos que ela iluda as pessoas com a crença de que problemas tão complexos já foram resolvidos. Isso não pode acontecer e essa é a minha visão. Vou continuar acompanhando a inflação lá e principalmente aqui, pois é a que mais nos afeta. E aprendendo com esses movimentos dos mercados financeiros, com o de lá influenciando o daqui, mas sem que o contrário ocorra. Mas já há mercados internacionais em que a influência do Brasil é grande, como no caso das commodities agrícolas.
* Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.
Artigo publicado no site da Fundação Espaço Democrático em 21 de novembro de 2023.