Por Roberto Macedo*
Nosso artigo anterior mostrou que o IBC-Br – o índice do Banco Central que procura prever mensalmente o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto), avaliado trimestralmente pelo IBGE –, estimou para maio um número negativo, taxa de -3%. A variação do mesmo índice em abril foi positiva, de 0,8%. O Monitor do PIB, da Fundação Getúlio Vargas, que também procura antecipar mensalmente as taxas de variação do PIB trimestral do IBGE, revelou também uma queda de 3% em maio – no caso de abril, a previsão também foi negativa, de 1,2%.
Com esses resultados, ponderamos ser provável que a variação do índice calculado pelo IBGE para o segundo trimestre deste ano, a ser divulgada no início de setembro, poderá ser até negativa se no mês de junho não ocorrer uma taxa positiva que compense essas variações predominantemente negativas de abril e, principalmente, maio.
Reportagem publicada no jornal Valor Econômico no dia 28 de julho mostrou uma análise setorial que também dá suporte a esse cenário. É uma reportagem longa e seu título sintetiza o conteúdo: Dados iniciais sinalizam freio na atividade do segundo trimestre.
Vejamos as taxas de desempenho mensal setoriais já disponíveis, conforme essa reportagem, de abril em relação a março e de maio em relação a abril: serviços (-1,5% e 0,9%), varejo ampliado (-2,4% e -1,1%) e produção industrial (-0,6% e 0,3%), respectivamente.
Nota-se uma predominância de taxas negativas – quatro entre seis – e no setor de serviços, que é o mais importante, a negativa é bem maior que a positiva. O texto não apresenta as taxas do agronegócio, mas sabe-se que o avanço trimestral do primeiro trimestre ocorreu a uma taxa excepcional de 21,6%(!). É no mesmo trimestre que predominam as colheitas. Com a queda ou a finalização da safra no segundo trimestre, espera-se que o desempenho em relação ao trimestre anterior seja também negativo.
A influência do setor do agronegócio também se espelha no fato de que a variação do PIB total no primeiro trimestre de 2023, em relação ao mesmo período de 2022, foi de 4%, enquanto que a variação prevista pelo boletim semanal Focus do Banco Central para o segundo trimestre de 2023, relativamente ao mesmo período de 2022, está perto de 2%.
Os dados de junho ainda não estão disponíveis, mas com base nas considerações acima arrisco a prever que a variação do PIB medida pelo IBGE será negativa no segundo trimestre desse ano.
Voltaremos ao assunto quando essa taxa for conhecida, no início de setembro. Ou mesmo antes, se algum fato novo for relevante para a discussão do assunto, o qual me atrai particularmente a atenção, pois a variação do PIB é crucial para acompanhar o andamento da economia, do qual dependem muitas coisas, tais como a variação do emprego, dos salários e a da arrecadação tributária.
* Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.
Artigo publicado no site da Fundação Espaço Democrático em 28 de julho de 2023.