Roberto Macedo analisa a taxa de desemprego de MT, MS, RO e SC, metade da registrada na média do Brasil
Por Roberto Macedo*
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua Trimestral, fechando o ano de 2022, mostraram resultado muito interessante, segundo destacou o jornal O Estado de S. Paulo na edição de 13 de março de 2023.
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Santa Catarina tiveram taxa de desemprego ou de desocupação abaixo de 4%, enquanto a média do País ficou em 7,9%, perto do dobro.
A presença dos três primeiros estados nesta lista sugere que naqueles casos o desempenho resultou na forte presença do agronegócio em suas áreas, fortalecimento que se acentuou nos últimos anos. No passado cheguei a ver opiniões que apontavam a mecanização da agricultura moderna como indutora do desemprego. Mas isso ignora que “da porteira para fora” a expansão do agronegócio estimula várias outras atividades, como transporte, armazenagem, indústria e comércio de máquinas agrícolas e manufatura de parte do que é produzido, como no caso de óleo e farelo de soja, e sua comercialização. Agências bancárias também surgem ou se ampliam com as necessidades financeiras ligadas às atividades do agronegócio e dessas atividades que sua cadeia produtiva envolve. Um entrevistado pela reportagem, Ezequiel Rezende, coordenador da unidade de economia, estudos e pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Mato do Grosso do Sul, também ressaltou alguns dos pontos que ressaltei acima.
Já no caso de Santa Catarina, a razão do menor desemprego vai além do agronegócio. Segundo a reportagem, “com agronegócios e indústria alimentícia no Oeste, indústria metal-mecânica e têxtil no Norte, turismo e tecnologia no litoral e indústria cerâmica e móveis no Sul, a diversificação da economia torna improvável uma expansão do desemprego mesmo quando o País enfrenta crises severas”. Essa diversificação foi apontada por Pablo Bittencourt, economista-chefe da Federação da Indústrias do Estado de Santa Catarina.
É sabido que os indicadores macroeconômicos brasileiros representam o total e a média de um enorme País. Por isso, entre outros aspectos, é preciso atentar para a sua variância regional e setorial. Em particular, pessoas que lidam com questões regionais e locais, como governadores e prefeitos, têm que ficar muito atentos às suas condições específicas em comparação com as avaliações nacionais.
* Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.
Artigo publicado no site da Fundação Espaço Democrático em 18 de maio de 2023.