Produção industrial fechou 2022 caindo 0,7% no ano
Por Roberto Macedo*
O IBGE divulgou no último dia 3 os dados da produção industrial brasileira. Segundo a Folha de S. Paulo do dia seguinte, o resultado ainda ficou 2,2% abaixo do de fevereiro de 2020, considerado o do nível pré-pandemia da covid-19, que começou no mês seguinte.
Esse resultado confirma o que vem sendo noticiado há anos, que o setor vem perdendo participação no PIB, pois este já ultrapassou o seu nível pré-pandemia. Também aponta para um resultado ruim no quarto trimestre de 2022, pois as taxas mensais de variação da produção foram 0,3%, -0,1% e zero nos meses de outubro, novembro e dezembro, respectivamente. Outro dado divulgado pela Folha é que o setor teve perdas em três dos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro.
Com razão, fala-se muito de um esforço para fortalecer o setor industrial, pois ele é um bom gerador de empregos e renda, além de também adotar tecnologia de ponta em vários dos seus ramos, principalmente quando cresce.
Além de perder espaço para produtos importados, o setor tem sentido nos meses recentes o efeito de uma inflação que aumentou e corroeu mais os rendimentos, ao mesmo tempo em que os juros mais altos cobrados pelo sistema financeiro desestimulam o endividamento para a compra de bens duráveis e também agravam o já elevado endividamento dos consumidores.
Olhando à frente o cenário tampouco é bom para o setor industrial. A economia está se desaquecendo, tema que tenho abordado várias vezes neste espaço, e demonstra esse desaquecimento o fato de que as previsões do boletim Focus do Banco Central são de um crescimento de 3% em 2022 e de apenas 0,8% em 2023, o que, como já disse aqui, vai gerar muita discussão política quando o IBGE divulgar os resultados do PIB de 2022, no fim deste mês ou no início do próximo. Adeptos do ex-presidente Bolsonaro deverão realçar o crescimento próximo de 3% em 2022, mas seus opositores o criticarão por ter entregado o PIB em queda no final do ano. O IBGE também deverá divulgar os resultados do PIB trimestral ao longo do ano, que deverão mostrar essa queda.
Há tempos se fala da necessidade de um movimento de reindustrialização do País, mas essa não é tarefa fácil, o que é demonstrado pela não realização desse movimento. Entre outras dificuldades há a de que a indústria sempre foi muito protegida, com tarifas altas sobre importações e créditos subsidiados. O que ela precisaria fazer seria aumentar suas exportações, mas seria uma prática a que o setor não está acostumado, pois sempre foi mais voltado para o mercado interno protegido. Outra dificuldade é que para buscar o mercado externo o setor precisaria fazer também um esforço de aprimoramento tecnológico para aumentar sua capacidade de exportar, mas essa é outra prática a que não está acostumado.
Mas o governo promete o esforço de reindustrialização, cuja formulação ficaria a cargo do BNDES. Pretendemos acompanhar esse esforço compartilhando nossas observações neste espaço.
Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.
Artigo publicado no site do Espaço Democrático em 9 de fevereiro de 2023.