Por Roberto Macedo
2021 ainda não terminou, mas já se pode prever que quando o PIB deste ano for publicado pelo IBGE, no final de fevereiro ou no início de março de 2022, haverá uma grande discussão sobre essa diferença. Conforme se prevê hoje, o crescimento do PIB entre 2020 e 2021 deverá ficar perto de 5,2%, uma boa taxa para um crescimento anual. Contudo, se essa taxa for verificada, o crescimento do PIB dentro de 2021 será de apenas 1,6%. O governo deverá ressaltar o primeiro resultado, mas seus opositores procurarão enfatizar o segundo.
Com o auxílio do gráfico a seguir explicarei essa diferença, e ao final darei minha visão de qual resultado é o mais relevante.
Esse gráfico mostra o Índice de Volume Trimestral do PIB – Série encadeada (média de 1995 = 100), começando do quarto trimestre de 2019 (2019.IV), e seguindo pelos quatro trimestres de 2020. Em 2021, os dados até o 2º trimestre são os já levantados pelo IBGE; os números dos dois trimestres seguintes supõem aumentos de 0,4% no terceiro e 0,5% no quarto, relativamente aos respectivos trimestres anteriores, e são taxas consistentes com um crescimento de 5,2% do PIB entre 2020 e 2021. O índice médio do PIB em 2020 foi 163,5 e é mostrado pelo gráfico.
Dadas essas informações, a taxa de 5,2% prevista para a variação entre 2020 e 2021 é obtida pela comparação entre a média dos números de 2021 e a média de 2020, ou seja, 172 e 163,5. Essa taxa se decompõe em duas. A primeira, de 3,6%, supondo que o PIB não crescesse nada em 2021, ou seja, comparando-se o valor de 169,4 com 163,5. Nessa hipótese, o primeiro valor, que é aquele com que o PIB terminou 2020, se manteria inalterado em 2021 e seria, assim, o seu valor médio.
A segunda taxa, de 1,6%, resultaria aproximadamente do crescimento médio do PIB dentro de 2021, obtido dos seus índices trimestrais, que levam à média de 172, comparada com o valor do último trimestre de 2020, cujo valor, 169,4, já foi mencionado e consta do gráfico.
Agora, a minha avaliação. A primeira taxa, de 3,6%, resulta mais do mau resultado de 2020 do que do 2021, pois a média do PIB de 2020 foi muito baixa, resultante da pandemia da covid-19 no mesmo ano. Esse efeito é chamado de carregamento, pois melhora a taxa do PIB de 2021, independentemente do seu desempenho. Já a segunda taxa, de 1,5% leva em conta apenas o crescimento dentro de 2021, comparando-o com o índice do quarto trimestre de 2020, ou seja, com o valor com que o PIB terminou o ano após a recuperação em V, claramente evidenciada pelo gráfico, após a qual a economia não conseguiu crescer como o fez na haste direita desse V.
Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.
Artigo publicado no site do Espaço Democrático em 30 de setembro de 2021.