Por Roberto Macedo
No dia 1º de setembro o IBGE divulgou os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil relativos ao segundo trimestre deste ano. O relatório sobre o assunto retroage a dados de 1996 apresentados num de seus gráficos, mostrado a seguir.
A linha azul do PIB observado mostra que até o quarto trimestre de 2008 ele seguia uma trajetória de crescimento que então foi interrompida por uma crise financeira nos Estados Unidos, que teve repercussões internacionais, alcançando também o Brasil. Aqui ela provocou uma recessão, que os economistas definem como uma sequência de dois trimestres consecutivos de queda do PIB, e foi seguida de uma recuperação rápida que retornou o PIB a seu maior valor anterior e a uma nova tendência de aumento que durou até o terceiro trimestre de 2013, quando atingiu o seu maior valor da série apresentada.
Começou, então, uma nova recessão, que se encerrou no primeiro trimestre de 2017, quando o PIB voltou a crescer, mas a taxas inferiores às que crescia antes da crise de 2008, conforme se percebe pela menor inclinação das linhas que vão de 2017 a 2019, relativamente àquelas 2009 e 2013.
No início de 2020 veio novamente uma recessão, associada à pandemia da Covid-19, que durou até o primeiro trimestre de 2021, quando a economia cresceu 1,2% relativamente ao último trimestre de 2020, retornando o PIB ao valor que tinha no último trimestre de 2019, conforme se observa pela linha do PIB ajustado.
Entretanto, não retornou ainda ao maior valor da série, já referido, o do terceiro trimestre de 2013. Com isso, a economia saiu de uma recessão, mas num contexto mais amplo ela permanece em depressão, este um movimento mais longo e mais grave que o de recessões.
A recuperação da recessão da pandemia da Covid-19 foi chamada de recuperação em V, formato que a linha do PIB mostrou em 2020. E como mostra o gráfico, a depressão que assola a economia desde 2013 tem um formato mais longo e achatado, como o da parte inferior de um U, mas a ponta de sua haste direita ainda está abaixo da ponta da haste esquerda.
A conclusão do exposto é que a economia brasileira está numa situação mais grave que a ressaltada sobre o noticiário econômico, mais focado no curto prazo e nessa recuperação em V, sem essa visão de um passado mais longo, a da depressão ainda em curso.
Uma estimativa da taxa que o PIB precisaria crescer para sair dela seria de 3% a partir do terceiro trimestre deste ano, mas o cenário é o de que, com muita sorte, o Brasil só conseguiria isso no final de 2022. Na contramão desse cenário, o PIB do segundo trimestre de 2021 caiu 0,1% e até o final do ano os analistas do mercado financeiro, conforme se depreende das recentes edições do Boletim Focus do Banco Central, estão indicando que nesse período ele só vai crescer algo próximo de 0,5%.
Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.
Artigo publicado no site da Fundação Espaço Democrático em 14 de setembro de 2021.