Por Roberto Macedo
No meio de um noticiário marcado por notícias ruins, veio uma boa, objeto de matéria publicada no Estadão no último dia 14 de agosto (p. B12). A bondade está espelhada no próprio título da matéria: “Safra de ventos dá alívio à crise hídrica”, e ela começa dizendo algo que pouca gente conhece: “Entre junho e novembro, uma média de 20% do abastecimento elétrico nacional será suprido com a geração eólica”, nome dado à energia que vem daqueles aerogeradores gigantes com três pás.
Esse período é conhecido como a “safra dos ventos”, pois é nele que a ventania se torna mais forte e constante. E coincide com um período em que as chuvas são muito fracas e só no final dele, a partir de setembro, começam a melhorar. Portanto, a energia eólica vem em boa hora.
A primeira vez que tomei contato com um aerogerador foi há uns 20 anos. quando, numa praia do Nordeste, vi um no horizonte algo enorme, girando três pás, e até perguntei do que se tratava. Nessa época, a geração desse tipo estava no seu começo, mas avançou muito após 2010, conforme dados que apresentarei mais à frente. Notei também que ao longo do tempo o tamanho das pás e das torres que os suportam foram crescendo. E tudo sem poluição ambiental.
No Nordeste, as costas do Ceará e do Rio Grande do Norte se destacam nessa ventania, e o Rio Grande do Sul também é mencionado como fonte importante. Vejamos agora alguns números dessa evolução, obtidos da mesma reportagem.
Ela mostra um gráfico do potencial de geração em megawatts, praticamente nula em 2005, mas com uma forte tendência de aumento cerca de uma década depois, o que levou esse potencial a 18.998 megawatts em 2021, até agosto. Atualmente, há 738 usinas eólicas em operação, abrangendo 6.950 aerogeradores em funcionamento e 183 usinas em construção, a qual levará a 5.445 megawatts adicionais de geração.
Sempre conforme a mesma reportagem, em 2020 o Brasil foi o país do mundo que mais ampliou a sua capacidade de geração, só atrás da China e dos Estados Unidos. Considerado o período de 2010 a 2020, os investimentos no setor foram de 37,3 bilhões de dólares, ou perto de 200 bilhões de reais a uma taxa de câmbio próxima da atual.
Não é pouca coisa e é, inegavelmente, uma bênção que veio com ajuda do céu.
Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.
Artigo publicado no site do Espaço Democrático em 17 de agosto de 2021.